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Decornautas entrevistam Jader Almeida

Em uma entrevista realizada pela dupla de jornalistas Allex Colontonio e Andre Rodrigues – ou mais conhecidos como Decornautas – , Jader Almeida discute a identidade do design brasileiro, visibilidade internacional e os desafios de exportação. Ele destaca a importância do Salone del Mobile de Milão para sua projeção global e aborda como lida com as cópias de seus produtos, enfatizando a qualidade e autenticidade de seu trabalho. Acompanhe a entrevista completa para entender melhor a visão de Jader Almeida sobre esses e outros temas relevantes no mundo do design.

1. Muito se tem falado sobre o desenho nacional tipo exportação. Você se tornou o designer mais expressivo da sua geração (e entrou para hall off fame que inclui todas as outras) para muito além da excelência do produto, mas também pela forma como você opera nos bastidores da indústria, estudando/ criando novas possibilidades construtivas no chão de fábrica. Há também a apresentação das coleções, o manifesto, o raciocínio espacial, sempre autoral, com arquitetura invariavelmente assinada por você. Pessoalmente, você considera essa identidade legitimamente brasileira ou busca, dentro das suas raízes, uma narrativa mais cosmopolita?

Primeiramente, obrigado. Considero a questão da identidade bastante complexa, pois vivemos em uma aldeia global onde a transversalidade inevitavelmente nos influencia, e isso não é de hoje, acho isso fascinante! Uma vez, Toni Chambers (que vocês conhecem) fez um comentário interessante que acredito definir bem essa ideia:

“O trabalho de Jader Almeida é uma expressão primorosa do que há de melhor no design brasileiro contemporâneo. Sua abordagem única vem da combinação perfeita entre as referências de arquitetura, o conhecimento das técnicas de produção e o amor pelo design regional e internacional. Reinventando habilmente a rica herança brasileira com influências dos melhores mestres europeus, o trabalho de Jader Almeida para a Sollos é um espetáculo de linhas sinuosas e proporções sofisticadas.”

Além disso, é comum que aqueles imersos em um contexto tenham uma visão distorcida, enquanto observadores externos conseguem perceber nuances diferentes. Lembro-me de uma importante exposição em Copenhagen, onde durante as discussões, alguns apontavam ver traços do design brasileiro, caracterizados por surpresa, curvas e sensualidade. Isso me fez refletir muito, especialmente porque há quem compare alguns produtos de Jader Almeida ao design escandinavo, embora os escandinavos não reconheçam essa similaridade. Essas histórias são realmente interessantes. Claro, sou um admirador do design escandinavo, japonês e brasileiro (mid-century), mas tenho uma intenção cosmopolita, global, voltada para o humano. Afinal, a identidade brasileira será naturalmente expressada.

In an interview conducted by the journalist duo Allex Colontonio and Andre Rodrigues – better known as Decornautas – Jader Almeida discusses the identity of Brazilian design, international visibility and the challenges of exporting. He highlights the importance of the Salone del Mobile in Milan for his global projection and addresses how he deals with copies of his products, emphasizing the quality and authenticity of his work. Follow the full interview to better understand Jader Almeida’s vision on these and other relevant topics in the world of design.

1. Much has been said about Brazilian design for export. You have become the most expressive designer of your generation (and joined the hall of fame that includes all others) not only due to the excellence of your products but also because of how you operate behind the scenes in the industry, studying and creating new construction possibilities on the factory floor. There is also the presentation of collections, the manifesto, the spatial reasoning, always original, with architecture invariably signed by you. Personally, do you consider this identity genuinely Brazilian, or do you seek, within your roots, a more cosmopolitan narrative?

First of all, thank you. I consider the question of identity quite complex because we live in a global village where transversality inevitably influences us, and this is not new—I find it fascinating! Once, Toni Chambers (whom you know) made an interesting comment that I believe defines this idea well:

“Jader Almeida’s work is a superb expression of the best in contemporary Brazilian design. His unique approach comes from the perfect combination of architectural references, knowledge of production techniques, and a love for regional and international design. Skillfully reinventing Brazil’s rich heritage with influences from the best European masters, Jader Almeida’s work for Sollos is a spectacle of sinuous lines and sophisticated proportions.”

Moreover, it is common for those immersed in a context to have a distorted view, while external observers can perceive different nuances. I remember an important exhibition in Copenhagen where, during discussions, some pointed out seeing traits of Brazilian design, characterized by surprise, curves, and sensuality. This made me reflect a lot, especially because some compare Jader Almeida’s products to Scandinavian design, even though Scandinavians do not recognize this similarity. These stories are truly interesting. Of course, I am an admirer of Scandinavian, Japanese, and Brazilian (mid-century) design, but I have a cosmopolitan, global intention focused on humanity. After all, Brazilian identity will naturally be expressed.

2. Como observador, você acha que o desenho contemporâneo brasileiro tem visibilidade internacional?

Considerando a vasta dimensão do Brasil, ainda percebo como observador que o reconhecimento é bastante tímido. É seguro afirmar que, em alguns nichos específicos, existe conhecimento; no entanto, de maneira geral e baseando-me em minha experiência, esse reconhecimento ainda é muito limitado.

3. Já como produtor, você internacionalizou bastante a sua marca… Para quantos (e quais) países você exporta hoje e, em porcentagem, quanto desse montante representa da sua produção?

Sim, trata-se de um caminho interessante. Atualmente, nossos produtos estão presentes em trinta países, com diferentes proporções de vendas. Alguns desses locais são boutiques que realizam compras esporádicas, mas sempre para projetos extremamente relevantes, o que é excelente para o posicionamento da marca. Outros realizam compras com regularidade. Para citar alguns países: Estados Unidos, México, Canadá, Rússia, Emirados Árabes Unidos, França, Portugal e Nova Zelândia. No ano de 2023, 23% de nossa produção foi destinada à exportação.

4. Em termos de legislação e logística, é fácil para você exportar sua mobília ou acha que ainda precisamos aprimorar esses trâmites?

Não enfrentamos dificuldades do ponto de vista técnico, mas há outros fatores que, em certo nível, complicam as coisas e nos tornam menos competitivos. Vamos a alguns exemplos: o custo de transporte interno, instabilidades nos órgãos aduaneiros e a falta de participação em tratados comerciais, o que acaba elevando nossos preços devido às taxações. No entanto, a experiência prática nos ensina a contornar alguns desses obstáculos com criatividade e eficiência.

2. As an observer, do you think contemporary Brazilian design has international visibility?

Considering Brazil’s vast dimension, I still perceive, as an observer, that the recognition is quite timid. It is safe to say that in some specific niches, there is knowledge; however, in general and based on my experience, this recognition is still very limited.

3. As a producer, you have significantly internationalized your brand… To how many (and which) countries do you export today, and in percentage terms, how much does this represent of your production?

Yes, it is an interesting path. Currently, our products are present in thirty countries, with different proportions of sales. Some of these locations are boutiques that make occasional purchases, but always for extremely relevant projects, which is excellent for brand positioning. Others make regular purchases. To name a few countries: United States, Mexico, Canada, Russia, United Arab Emirates, France, Portugal, and New Zealand. In 2023, 23% of our production was destined for export.

4. In terms of legislation and logistics, is it easy for you to export your furniture, or do you think we still need to improve these procedures?

We do not face technical difficulties, but there are other factors that, to some extent, complicate things and make us less competitive. Let’s take some examples: the cost of internal transportation, instabilities in customs authorities, and the lack of participation in trade agreements, which end up raising our prices due to taxes. However, practical experience teaches us to overcome some of these obstacles with creativity and efficiency.

5. Embora exponha em Milão há algumas temporadas, seja em coletivos, seja em mostras individuais, você acha que a temporada italiana no design foi determinante para a sua reverberação internacional?

Milão é, sem dúvida, um epicentro de oportunidades, onde muitos contatos podem ser ativados. Mas, não apenas, ter ações combinadas sempre trazem melhores resultados.  Ainda hoje, donos de lojas de todo o mundo buscam oportunidades pelas ruas da cidade durante a temporada. Por exemplo, tivemos um cliente de Sydney que, antes de nos contatar, visitou de forma discreta nossos showrooms (Fuori Salone) durante dois anos. Outro caso interessante foi o de um arquiteto grego cuja visita resultou em um projeto em Atenas. Um fator curioso aconteceu quando um cliente, hospedando-se em um hotel em Tokyo, que por acaso tinha alguns dos nossos produtos, fotografou-os e enviou para seu time comercial, houve o contato, o desenvolvimento de conversas e o que resultou em boas transações. Estar nos lugares certos pode realmente fazer a diferença!

6. Você é um dos nomes mais copiados da indústria nacional hoje. Como você lida com isso? Fica tudo na mão do seu depto jurídico ou você ainda se aborrece com o assunto?

É inevitável. Recentemente, recebemos vídeos e fotos de uma feira na China onde nossos produtos foram literalmente copiados, incluindo as composições de layout, tecidos e cores. O fácil acesso à informação facilita esse tipo de situação. Felizmente, nossos clientes são perspicazes e conseguem perceber a diferença. Não se trata apenas da “forma”, mas os detalhes, a qualidade dos materiais e a execução diferenciam nossos produtos, criando um abismo entre o original e a cópia. Em nossas lojas próprias, tanto consumidores quanto especificadores percebem claramente essa distinção. Claro, alguns optam pelo genérico, o que é frustrante, mas nossa resposta é sempre tentar estar à frente.

5. Although you have been exhibiting in Milan for several seasons, whether in collectives or individual shows, do you think the Italian design season was decisive for your international resonance?

Milan is undoubtedly an epicenter of opportunities, where many contacts can be activated. However, having combined actions always brings better results. Even today, store owners from around the world seek opportunities in the streets of the city during the season. For example, we had a client from Sydney who, before contacting us, discreetly visited our showrooms (Fuori Salone) for two years. Another interesting case was that of a Greek architect whose visit resulted in a project in Athens. A curious factor occurred when a client, staying at a hotel in Tokyo that happened to have some of our products, photographed them and sent them to their commercial team, which led to contact, the development of conversations, and good transactions. Being in the right places can really make a difference!

6. You are one of the most copied names in the national industry today. How do you deal with this? Does your legal department handle everything, or do you still get annoyed by the subject?

It is inevitable. Recently, we received videos and photos from a fair in China where our products were literally copied, including layout compositions, fabrics, and colors. Easy access to information facilitates this kind of situation. Fortunately, our clients are perceptive and can distinguish the difference. It’s not just about the “form,” but the details, the quality of materials, and the execution that set our products apart, creating a chasm between the original and the copy. In our own stores, both consumers and specifiers clearly perceive this distinction. Of course, some opt for the generic, which is frustrating, but our response is always to stay ahead.

7. Num mercado tão competitivo, claro que algumas pessoas também dizem, a boca pequena, que você já copiou ou se inspirou excessivamente em algo ou alguém durante determinada fase da sua carreira. Isso já chegou aos seus ouvidos? Como reage?

Ah, veja só, a própria questão diz tudo, né? “Boca-pequena”. Sinceramente, não costumo dar ouvidos a isso. Até porque, convenhamos, obviamente deve vir de alguém ou algum grupo insignificante… Meus produtos raramente saem de produção. Afinal, meu lema é a atemporalidade. Estamos presentes em projetos incríveis, como: escritórios da Hermes em Paris e no Reino Unido, vitrine da Chanel, a hotéis boutique muito especiais como em Tourrel, Aman etc… Isso sem falar nos incontáveis projetos seja em São Paulo, Los Angeles ou Sidney com gente que, de fato, faz diferença. Então, é seguro dizer que meu público tem conhecimento, referências e, óbvio, muita consciência.

8. Você acha que o mercado internacional ainda enxerga o brasileiro como um copiador?

Refletindo sobre isso, acho que a resposta complementa a segunda pergunta. De modo geral, as pessoas conhecem pouco sobre o Brasil. Claro, temos o modernismo, que ainda ressoa fortemente, mas percebo que não há uma opinião bem formada acerca da “produção do design”. Mesmo hoje, participando do Salone em Milão, há quem se surpreenda com nossa presença. Além disso, sempre que apresentamos a marca no exterior, sentimos a necessidade de contextualizar o Brasil antes mesmo de falar da marca ou produtos. Portanto, não acredito que exista uma percepção clara sobre o país, enquanto design, no imaginário global.

9. Como observou a temporada milanesa esse ano? Você acha que a indústria internacional apresentou boas soluções? Do que mais gostou? E do que menos gostou?

Sou realmente entusiasta e acho que toda essa energia é algo incrível. No entanto, estive bastante ocupado com a exposição e, quando conseguia sair, tudo estava muito cheio, alguns locais impossíveis para quem tem tempo limitado. Também acredito que cada um tem seu próprio olhar; eu, por exemplo, às vezes noto detalhes que nem estão tão evidentes para outros. Por outro lado, nossa indústria (de modo geral) não se movimenta tão rapidamente: cada mudança implica grandes alterações, envolvendo máquinas, técnicas, materiais etc. De fato, até para descrever isso em poucas palavras é complexo.

7. In such a competitive market, some people also say, off the record, that you have copied or been excessively inspired by something or someone during a certain phase of your career. Has this ever reached your ears? How do you react?

Ah, you see, the very question says it all, right? “Off the record.” Honestly, I don’t usually pay attention to it. After all, let’s face it, it obviously comes from someone or some insignificant group… My products rarely go out of production. After all, my motto is timelessness. We are present in incredible projects such as: Hermes offices in Paris and the UK, Chanel shop windows, and very special boutique hotels like Tourrel, Aman, etc. Not to mention the countless projects in São Paulo, Los Angeles, or Sydney with people who really make a difference. So, it is safe to say that my audience has knowledge, references, and, of course, a lot of awareness.

8. Do you think the international market still sees Brazilians as copycats?

Reflecting on this, I think the answer complements the second question. Generally speaking, people know little about Brazil. Of course, we have modernism, which still resonates strongly, but I see that there is no well-formed opinion about the “production of design.” Even today, participating in the Salone in Milan, some are surprised by our presence. Additionally, whenever we present the brand abroad, we feel the need to contextualize Brazil before even talking about the brand or products. Therefore, I do not believe there is a clear perception of the country as a design entity in the global imagination.

9. How did you observe the Milanese season this year? Do you think the international industry presented good solutions? What did you like most? And what did you like least?

I am really enthusiastic and think that all this energy is something incredible. However, I was quite busy with the exhibition, and when I managed to get out, everything was very crowded, some places impossible for those with limited time. I also believe that each person has their own perspective; I, for example, sometimes notice details that are not so evident to others. On the other hand, our industry (in general) does not move so quickly: each change implies major alterations, involving machines, techniques, materials, etc. In fact, even describing this in a few words is complex.

Créditos:

Conceito, criação e direção – Allex Colontonio + André Rodrigues

Fotografia – Diego Mello 

Moda/Styling – Fran Piovesan 

Modelo – Laura Martins (another agency) 

Beleza – Eliseu Santana 

Assistente de beleza – Flavia Rudelli 

Produção – Felippe Chagas

Credits

Concept, Creation, and Direction – Allex Colontonio + André Rodrigues

Photography – Diego Mello

Fashion/Styling – Fran Piovesan

Model – Laura Martins (Another Agency)

Beauty – Eliseu Santana

Beauty Assistant – Flavia Rudelli

Production – Felippe Chagas